No dia 28 de novembro, houve um passeio de Alunos do JATD para uma exposição
na CAIXA
Cultural Salvador, que comemorava o mês da Consciência Negra, com uma viagem pela cultura afro-brasileira
A CAIXA
Cultural Salvador apresentou a
exposição “Marcas da Alma: uma viagem pela cultura afro-brasileira através das
marcas corporais”. Composta por 60 peças arqueológicas, 10 fotografias e duas
montagens cenográficas, que resgatam importantes períodos da diáspora africana
no Brasil, a mostra ficou em cartaz até 8 de dezembro, com patrocínio da Caixa
Econômica Federal e entrada franca.
As
fotografias de autoria de Cristiano Jr., pertencentes ao acervo Noronha Santos
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), trazem
registros preciosos das etnias africanas e suas marcas corporais, usadas para
identificação do grupo. Um raro registro desse período e desses homens e
mulheres.
As peças
arqueológicas, formadas por cerâmicas e cachimbos, figuras votivas e estátuas,
são originárias do sítio São Francisco, na cidade de São Sebastião (SP). As
peças, reconstruídas e restauradas, são de propriedade da Fundação Cultural de
São Sebastião.
A
exposição era complementada por espaços cênicos, iluminação e sonorização
especiais, nos quais os objetos e fotografias estão inseridos, que contam a
história dessas marcas culturais. desde a origem, na África, até o Brasil, por
intermédio de marcas corporais. Para compor a cenografia da mostra, dois
ambientes foram montados na Galeria, um deles faz referência ao bairro de São
Sebastião e o outro reproduz uma cozinha colonial, local de utilização das
cerâmicas.
A mostra
fez com que o visitante entre no mundo da arqueologia, envolvendo uma das mais
interessantes coleções brasileiras, fundamental para nossa identidade cultural,
com referência às nossas raízes africanas. Nas cerâmicas, produzidas no porto
dos escravos de São Sebastião, os africanos recém-chegados deixavam suas marcas
de identidade nas decorações, garantindo sua perpetuação. Essas marcas, de
algum modo, se relacionaram com o surgimento das marcas corporais realizadas no
âmbito das religiões afro-brasileiras, sobretudo no candomblé – em suas
diversas vertentes.
De acordo
com Wagner Bornal, curador da exposição “Sagrado e profano, vida espiritual e
vida material, o tangível e o simbólico, são indissociáveis nesse universo
cultural. As marcas que simbolizam forças primais, energias, histórias, e que
transformam a materialidade quando inseridas. O suporte dessas marcas, o vetor
dessas transformações de energias, memórias, em matéria, podiam ser os corpos,
mas também o barro”.
Sítio São
Francisco:
No final
dos anos de 1980, o arqueólogo Wagner Bornal iniciou uma escavações no Sítio
São Francisco e se deparou com uma imensa coleção de objetos cerâmicos – potes,
panelas, farinheiras, cachimbos etc. – adornados com as mesmas marcas corporais
que identificavam os africanos aqui chegados. Ao longo de 20 anos, o Sítio foi
meticulosamente escavado, tornando-se um dos sítios arqueológicos com uma das
mais consistentes pesquisas que temos.
Com base
nesse trabalho, foi possível interpretar um pouco a trajetória do local: antiga
fazenda de açúcar, de proprietários portugueses, que depois se tornou fazenda
de café. Por décadas foi local de recepção de uma grande população de escravos,
desproporcional para o tamanho da estrutura produtiva da região. Ou seja,
muitos escravos para tão poucas fornalhas, tantas senzalas para uma área tão
cheia de restrições à agricultura.
Para onde
foram esses escravos? Seria São Francisco um ponto de tráfico ilegal de
escravos? Ponto de passagem para os sertões da América? As perguntas ficaram no
ar. E a exposição traz de volta essas questões.
“Marcas da
Alma: uma viagem pela cultura afro-brasileira através das marcas corporais”
fotos: Prof. Valmar Oliveira